Revista Philomatica

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Paulista não gosta de árvores!

O título, acintoso, pode parecer generalizador. Muitos provavelmente dirão amar as árvores, símbolos da onda verde que se espalha e se fortalece entre os mais diferentes estratos da sociedade contemporânea. Afinal, é carro flex, combustível limpo, plantio de árvores para compensar o gás carbônico emitido nas inúmeras atividades diárias, campanha para banir de vez as tais sacolinhas dos supermercados e por aí vai. No entanto, muitas dessas iniciativas ficam ao meio do caminho. Não precisa ir longe, as árvores, o símbolo mais flagrante do verde aos nossos olhos, figuram como um belo exemplo das iniciativas, diga-se, "pra inglês ver". Não quero, evidentemente, dizer que boas inciativas não sejam válidas. Quero, sim, afirmar que há um longo passo entre alardear pela imprensa o plantio de centenas de árvores e depois deixá-las perecer sob as intempéries do tempo.

Por que essa conversa? Porque passei pelas marginais do Tietê e lá, mais uma vez, há um exemplo de iniciativa que ficou pelo caminho. Há cerca de dois centenas de mudas foram plantadas à margem do rio (ou esgoto?). Sofreram com a estiagem e o vento, muitas pereceram. Agora, quando parte delas começam a ficar "mocinhas" foram abruptamente arrancadas. Junto das "árvores meninas" estão padecendo também as adultas. Diz-se que estão sendo replantadas. É esperar para ver. Diz-se que em torno das marginais haverá um cinturão verde. Também é esperar para ver. Por que tanto ceticismo? Já observaram como se dá o plantio de árvores nas cidades? Planta-se nos meses de inverno quando a umidade é baixa e a chuva é escassa. Esquecem que árvores precisam de água para se desenvolver. Gostaria muito de saber de um biólogo ou agronômo, sei lá, qual a lógica que impera nesses casos. O que sei é que meus vasos não sobrevivem sem água. No entanto, a prefeitura aparece, finca as mudas no chão e passam meses até que alguém volte para recolher os arbustos secos. Caso queiram conferir o que digo, passem pela Rua Maria Paula, esquina com a Santo Antônio e vejam os galhos secos que restaram entre os canteiros. Tenho um amigo que tem lá sua opinião: é pura estratégia. Planta-se neste inverno, gasta-se o dinheiro público na compra das mudas (que nesses casos são absurdamente mais caras que o preço de mercado) e, como elas não resistem ao tempo, no inverno próximo repete-se a operação. É dinheiro em caixa ou fora do caixa - depende do viés.

As árvores das marginais beiram a esse raciocínio. Afinal, uma licitação pública da envergadura daquela em que se propõe a aumentar as pistas das marginais, leva tempo; não acredito que seja algo que se idealize e tenha seu início em tão curto espaço de tempo. O cidadão, às vezes, espera décadas por uma escola, um posto médico; daí a comparação. Presumo que há dois anos já havia um projeto para o alargamento das pistas, assim, por que o plantio das árvores? E, ainda, se a intenção é um ar menos poluído, por que não priorizar o transporte público?

Ao ver o abate das árvores não pude deixar de me lembrar de Roger Bastide, arguto professor, sociólogo e antropólogo que, em seu livro Brésil Terre des Contrastes, ao traçar um panorama das capitais Rio e São Paulo, afirma: "Le Pauliste n'aime pas les arbres; il leur préfère les gazons verts, à l'anglaise, ou les massifs de fleurs." (O Paulista não gosta de árvores, ele prefere gramados verdes, à inglesa, ou montes de flores.)

Muito provavelmente Bastide viu uma São Paulo mais verde e mais florida. Se a visse hoje diria: "Le Pauliste déteste les arbres." (O Paulista detesta as árvores).


Dica: BASTIDE, Roger. Brésil Terre des Contrastes. Paris: Librarie Hachette, 1957. (Certamente deve haver tradução para o português, também pode-se encontrar o livro em sebos.)




Um comentário:

  1. EU TENHO GOSTO POR PLANTAR ARVORES, MAS TENHOO DESGOSTO DE VE-LAS DESTRUIDAS.
    PAULATINAMENTE SOBRE OS MAIS VARIADOS PRETEXTOS VAO MATANDO TODAS. CADA UM COM SUAS RAZOES, OU SUAS DESCULPAS. MAS CAVANDO A SUA PROPIA SEUPULTURA.
    FAZ TEMPO NÃO CONSIGO VER UMA ARVORE CRESCER INCOLUME, EM ALGUM MOMENTO SOFRERA ATAQUE DE VANDA-LOS OU MESMO DE JUSTIFICADOS MENTECAPTOS.

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