Revista Philomatica

domingo, 10 de janeiro de 2010

As Noites de Cabinda


A notícia de que a Seleção de Futebol do Togo havia sido metralhada em Cabinda, ao cruzar a fronteira do Congo, foi largamente divulgada pela imprensa. Afinal, colocou-se em discussão não só a segurança dos atletas que participariam da Copa Africana de Nações, em Angola, como também, segundo articulistas, as implicações - negativas, evidentemente, que um evento tão deplorável pode trazer à Copa do Mundo, que se realizará daqui há alguns meses no Continente Africano.

Eu, de minha parte, fiquei matutando com a sonoridade do nome. Cabinda, Cabinda. Já ouvira esse nome antes. Mas, quando, onde? De alguma forma o nome me trazia certa nostalgia, um não sei quê de aventura, de distante, que ressoava, enfim, a impressão de que o nome escondia algo interessante e que era preciso que eu o desvendasse. Hoje, num lampejo, lembrei-me. De fato, não tratava-se de Cabinda, mas Cabíria. As Noites de Cabíria (Le Notti de Cabiria) de Federico Fellini, Oscar de Melhor Filme Estrangeiro no ano de 1957 e também prêmio de Melhor Atriz para Giulietta Masina, em Cannes. Em As noites de Cabíria, Cabíria, personagem de Giuletta, é uma prostituta ingênua, eletrizante e baixinha, que vaga pelas ruas de Roma à procura de seu verdadeiro amor. Uma decepção atrás de outra, tenta de tudo, até a ajuda divina. Resultado: acaba por encontrar seu pretendente dos sonhos em local e hora mais inapropriados. Para saber se o pretendente será assim tão perfeito é só ver o filme, que vale a pena!

Vejam: não disse que havia algo escondido por trás de tal sonoridade!? Certamente os jogadores do Togo não viram relação alguma entre as Noites de Cabinda e as Noites de Cabíria. Mas ainda assim, a sonoridade as aproximam, assim como se aproximam os dois eventos, a Copa Africana de Nações e a Copa do Mundo. Entre elas um assunto espinhoso: a segurança almejada por todos em tempos tão aterrorizantes e tão terroristas. Nós aqui, do outro lado do oceano, pensamos nos eventos planetários que vamos patrocinar: primeiro, as Olimpíadas, depois, daqui algum tempo, a próxima Copa do Mundo. Tudo está ligado. Na hora em que o mundo questiona a segurança possível na África para a próxima Copa do Mundo, na África do Sul, nos perguntamos, qual a segurança possível no Rio de Janeiro das próximas Olimpíadas? Após ler o noticiário de hoje, que estampa a eterna guerra do tráfico entre os morros cariocas com o sempre garantido saldo de inocentes mortos ao final, o que nos espera? O que nos resta, parece, é apelar pela ajuda divina - como Cabíria, e torcer para que a sonoridade fique nas palavras e não seja aquela tão comum das balas perdidas, que diariamente amendronta os cariocas.