Revista Philomatica

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Best Sellers

Semana passada dei um giro pela Paulista e estive nas livrarias Martins Fontes e FNAC. Nessa última havia uma prateleira ...(Nossa que antigo! Mas saiu e vá lá, fica. Você leitor, se preferir, troque por estante ou gondôla, já que lá vende-se de tudo, inclusive livros). Pois é. Lá havia uma prateleira com os livros Top. Top 1, Top 2, Top 3 e assim por diante. Me explico: por Top, leia-se os mais vendidos, os best sellers. E adivinhem. Qual era o mais vendido? Nada mais nada menos que O Símbolo Perdido de Dan Brown. Dan Brown, claro, todos conhecem. Se não se lembram do autor, com certeza ja ouviram falar sobre um livrinho - O Código da Vinci - que vendeu espetaculares 80 milhões de exemplares all around the world. Verdadeiro best seller, impossível negar.
Ao ver tamanha façanha do autor americano (Ele já emplacara recentemente Anjos e Demônios entre os mais vendidos.) lembrei-me de recente palestra proferida pelo escritor e correspondente do jornal O Estado de São Paulo, Gilles Lapouge, como parte das comemorações do ano da França no Brasil. A palestra de Lapouge intitulava-se A Literatura Francesa hoje. O escritor citou grandes nomes da Literatura Francesa e lá pelas tantas, em resposta a uma insistente ouvinte que perguntara o porquê de ele não comentar Amélie Nothomb, comentou sobre os autores que vendem muito. Segundo ele, a máxima adotada pela crítica francesa é a de que se vende muito é porque não é bom. Para sustentar essa ideia, lembrou autores de sucesso à época em que publicaram e que hoje cairam no esquecimento. Detalhe: venderam muito. Por outro lado, citou monstros sagrados da literatura que venderam pouco ou quase nada e resistiram ao tempo.
Eu, de minha parte, na hora visualizei o prefácio de Memória póstumas de Brás Cubas (1881), no qual Machado relembra Stendhal. Aí vai: "Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus livros para cem leitores, cousa é que admira e consterna. O que não admira, nem provavelmente consternará é se este outro livro não tiver os cem leitores de Stendhal, nem cinqüenta, nem vinte, e quando muito, dez. Dez? Talvez cinco." E nem é preciso comentar a eternidade de Stendhal e Machado! Vale ainda lembrar que à época em que Machado publicou Memórias póstumas, o grande sucesso editorial fora O Mulato de Aluísio de Azevedo.
Muitos declaram isso ser puro preconceito da crítica. Haja vista a indiferença sempre reservada ao nosso popular Jorge Amado, mas isso é conversa para outra hora. Por agora, me perguntei: alguém lera O Código da Vinci em 2110? Quem viver, verá!!!
Em tempo: Gilles Lapouge listou alguns bons autores franceses modernos que valem a pena. Entre eles: Roland Barthes com Le dégré zéro de l'écriture, Mythologies, Roland Barthes par lui même, Fragments d'un amoureux e La chambre noire; Pierre Michon com Vies minuscules, Rimbaud le fils, Corps du roi, Les Abbés, Les onze e La Grande Beume; Nicolas Bouvier com L'usage du monde, além de Marcel Proust, François Mauriac, Philippe Sollers, Jean Giono, Marguerite Duras, Pascal Quignard, Bernard Henry Lévy, Régis Debray e outros. É só conferir!