Revista Philomatica

domingo, 17 de janeiro de 2010

Escândalos na Academia

Ontem comentei sobre a missa de Joaquim Nabuco que será realizada em 17.1.2010 e que promete jetom para os imortais que nela estiverem presentes. Em momento algum falei em escândalo. Hoje, porém, lembrei-me do formidável livro de Brito Broca, A Vida Literária no Brasil 1900. O capítulo VII traz como subtítulo: Escândalos na Academia. Indício de que os subterrâneos da instituição oferecem argumentos, assaz intrigantes, para uma boa narrativa à la Dan Brown. Questão de pesquisa. Mas voltemos a Brito Broca. Dentre outras picuinhas, Broca relata fato que abalou o conceito da instituição no meio intelectual do país: a eleição de Mário de Alencar. Era 1905, Mário de Alencar tinha como concorrente Domingos Olímpio, autor de Luzia-Homem, considerado um autor em plena maturidade e consagrado pela crítica, que dirigia ainda a revista Os Anais, onde publicava O Almirante. A vaga a preencher fora aberta com a morte de José do Patrocínio. Mário, no entanto, nada produzira que justificasse sua eleição para a Academia. Ainda moço, as justificativas para sua escolha limitavam-se aquilo que hoje comumente denominamos QI (Quem Indica). Veja-se: Mário, a seu favor apresentava-se como herdeiro de um nome ilustre - era filho de José de Alencar, além é claro de ser pupilo de Machado de Assis. Publicações? Apenas duas coletâneas de versos. Tudo levava a crer que Domingos Olímpio seria o eleito, porém, boatos surgiram de que a eleição de Mário estaria garantida devido ao amparo de dois padrinhos poderosos: Machado de Assis e o barão do Rio Branco. Final da história: em eleição realizada no dia 31 de outubro de 1905, Mário ganhou a eleição com 17 votos, Domingos Olímpio obteve 9 e um candidadto menor, o padre Severiano de Resende, apenas um, certamente o seu. Comentou-se à época que Machado, propositadamente, se esquecera de computar o voto de Oliveira Lima a favor de Domingos Olímpio, além do que, sua 'panelinha' trabalhara arduamente em favor de Mário de Alencar. A derrota de Olímpio gerou protestos na imprensa, com críticas n'O Correio da Manhã (2.11.1905), n'O País (1.11.1905), na Tribuna de Petrópolis e outros mais.


Tudo isto, porém, ocorria entre as pessoas ditas les gens de lettres. Hoje, sabe-se que a envergadura do leque de imortais é considerável. Lá temos José Sarney, que corre o risco de receber jetom. Dele, lembrei-me hoje ao ouvir comentário de Salomão Schvartzman, intitulado: Roberto Campos tem o direito de ser considerado uma das maiores inteligências do Brasil do século XX. Schvartzman começa seu comentário com essas palavras: "Não sei se você já conseguiu ler algum livro do senador José Sarney. É que quando você larga o livro, você não consegue mais pegá-lo." O jornalista afirma ainda dar-se exatamente o contrário com A lanterna na popa, de Roberto Campos, uma autobiografia que tornou-se best seller, não só um livro referência sobre o Brasil, mas que também traça um panorama da política, do poder e da economia mundial nos últimos 50 anos. Pois bem, Schvartzman fez um apanhado geral das ideias de muitas das personalidades citadas e que Campos transformou em leis. Aí vão elas:
  • Lei de Churchill: A democracia é a pior forma de governo, exceto as outras.
  • Lei de Lenin: É verdade que a liberdade é preciosa, tão preciosa que é preciso racioná-la.
  • Lei de Stalin: Uma única morte é uma tragédia, um milhão de mortes é uma estatística.
  • Lei de Khrushchov: Os políticos em qualquer parte são os mesmos, eles prometem construir pontes mesmo quando não há rios.
  • Lei de Henry Kissinger: O ilegal é o que fazemos imediatamente, o inconstitucional é que exige um pouco mais de tempo.
  • Lei de Mark Twain: Um banqueiro é um tipo que nos empresta um guarda-chuva quando faz sol e exige-o de volta quando começa a chover.
  • Lei de Randolph (constituinte da Convenção de Filadélfia): O mais delicioso dos privilégios é gastar o dinheiro dos outros.
  • Lei de Getúlio Vargas: Os ministérios se compõem de dois grupos: um formado por gente incapaz, outro por gente capaz de tudo.
  • Lei de Delfim Neto: A primeira vez que o governo manifestou alguma preocupação com a agricultura, foi quando José Serra mandou um jornalista plantar batatas.
  • Lei de José Maria Alkmin (antigo Ministro da Fazenda): Dele se dizia que era capaz de trocar de meias sem descalçar os sapatos.
  • Lei de Millôr Fernandes: O problema da democracia é quando o povo toma o palácio e não sabe puxar a descarga.


A lanterna na popa, dado o apanhado acima, deve ser delicioso. São 1460 páginas, em dois volumes e fartamente ilustrado com fotos que cobrem meio século de vida brasileira.
Editora: Topbooks, Autor: ROBERTO CAMPOS , ISBN: 8574750387 , 4a. edição. 2002.

Nota: A Vida Literária no Brasil 1900, Brito Broca, Editora José Olympio, 4a. edição, 2004.




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