Revista Philomatica

sábado, 9 de janeiro de 2010

A Juventude de Machado de Assis

Ao longo de 2008 comemorou-se o centenário da morte de Machado de Assis, sem dúvida, nosso maior expoente literário do século XIX, porém, ainda há muito da biografia do escritor que permanece em zona obscura, envolta por especulações da crítica, a grande maioria, diga-se de passagem, sem quaisquer lastros que as sustentem.
Daí a importância do relançamento do livro A Juventude de Machado de Assis (1839-1870) de Jean-Michel Massa. O autor, vale lembrar, é um francês aficionado por Machado. Começou seus estudos machadianos em 1948; de sua tese de doutorado para a Université de Poitiers surgiu La jeunesse de Machado de Assis (1839-1870), publicado pela Editora Civilização Brasileira em 1971. Depois, escreveu ainda Machado de Assis tradutor, Dispersos de Machado de Assis e A biblioteca de Machado de Assis.
Com o reaparecimento do livro o leitor terá a oportunidade de desfazer muito do folclore criado em torno da figura de Machado, o qual sempre fora considerado uma espécie de milagre pela crítica tupiniquim. Massa vai de encontro a equívocos e lendas que foram se perpetuando e hoje aparecem colados à imagem do escritor. Não se sabe, por exemplo, como ele aprendeu o francês, idioma cultural dominante no Brasil do século XIX. Diz-se, por exemplo, que ele aprendera o idioma de Voltaire com uma senhora francesa, dona de uma padaria chamada Gallot. Após anos de pesquisas em subterrâneos de bibliotecas à procura de manuscritos, o professor é categórico: "Esta padaria nunca existiu! É só dar uma olhada no anuário Laemmert, que sinaliza todos os estabelecimentos do Rio de Janeiro à época." Para ele a crítica desconsidera que Machado fora educado pelos proprietários da fazenda do Livramento, no Rio, onde era uma espécie de neto adotivo. O professor acrescenta: "Como naquela época as pessoas cultas falavam quase só francês – em todas as cortes alías só se falava francês-, Machado teria aprendido seu francês aí." E finaliza: "Alguém que aprendeu francês na padaria dificilmente traduziria Oliver Twist de Charles Dickens ainda tão jovem." (A tradução foi feita a partir de uma versão francesa.)
Jean-Michel Massa destrói ainda a imagem tão disseminada do jovem Machado pobre e doente de epilepsia: "Como um jovem que ia praticamente todos os dias ao teatro, recitava poemas em público, namorava todas as atrizes e tinha vida de farras podia ser epilético e gago?", questiona o professor.
A Juventude de Machado de Assis- 1839-1870 que reapaecu semstre passado, atualizado e revisado, não só revela o perfil de um jovem de origem pobre que desejava subir na escala social – e, sobretudo, desejava reconhecimento intelectual, como também o périplo de Machado para se afirmar como escritor, além de sua passagem pelos periódicos, a poesia, a crítica teatral, a crônica, etc., antes da descoberta da prosa de ficção como o veículo ideal de sua expressão.

Nota: As falas de Jean-Michel Massa aqui transcritas proferidas quando de sua Palestra sobre Machado de Assis, na Faculdade de Filosofia, letras e Ciências Humanas (FFLCH) no segundo semestre de 2008.


A Juventude de Machado de Assis - Jean-Michel Massa
Trad.: Marco Aurélio de Moura Matos. Civilização Brasileira, 1971 [esgotado]




A juventude de Machado de Assis (1839-1870) - ensaio de biografia intelectual
Autor: Jean-Michel Massa
Número de páginas: 582 - Formato: 16 x 23 cm - Preço: R$ 70,00 ISBN: 978-85-7139-917-4
Os livros da Fundação Editora da Unesp podem ser adquiridos pelo site: http://www.editoraunesp.com.br/ ou telefone (11) 3242-7171.