Revista Philomatica

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Proteção aos animais

Ontem, assinei mais um abaixo-assinado em defesa dos animais. O documento em questão não só solitava a assinatura, como também trazia uma série de fotos aterradoras mostrando como o homem??? consegue transformar a vidas dos animais em verdadeiro inferno. O maltrato aos judeus, conhecido como holocausto, tornou-se o mais indigno exemplo de como o homem pode tornar-se contra seu semelhante, embora haja gente??? como o tal Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã e cortejado pelo "cara", que insiste em dizer que o morticínio não existiu. Caso Roosevelt não tivesse orientado seus soldados a fotografar e documentar a dimensão da tragédia, é bem possível que hoje tudo não passasse de ficção à maneira dos filmes de guerra hollywoodianos. Já li que na Inglaterra houve uma determinação do governo para não se discutir a ocorrência do holocausto nas escolas afim de não ferir a sensilibidade dos muçulmanos, já que, evidentemente, a questão iraniana e o nome do tal Mahmoud viriam à tona. Até que ponto isto é verídico, não sei, mas se existir lá um fio de verdade, é deplorável tanto quanto negar o holocausto. Isto tudo para falar do lado B do ser humano, diga-se, lado nada humano e que, comparando-se com os animais, leva até o mais obtuso a se questionar: quem são os verdadeiros animais?
Machado, em crônica de 12/4/1896 - A Semana, relata a indenização de 60 contos de réis paga ao proprietário de um cavalo, morto por um dos carros da Companhia Vila Isabel. O cronista conclui: "Não é demais, tratando-se de um animal de fina raça. Conheço pessoas que não valem tanto..." Prova de que, em algum instante, o cronista desconfiou da superioridade humana. Em inúmeras outras crônicas Machado, volta-se aos animais. Vejamos:

Crônica de 15/3/1877 - História de Quinze dias: "... E querem saber por que detesto as touradas? Pensam que é por causa do homem? Ixe! é por causa do boi, unicamente do boi. Eu sou sócio (sentimentalmente falando) de todas as sociedades protetoras dos animais. O primeiro homem que se lembrou de criar uma sociedade protetora dos animais lavrou um grande tento em favor da humanidade; mostrou que este galo sem penas de Platão pode comer os outros galos seus colegas, mas não os quer afligir nem mortificar. Não digo que façamos nesta Corte uma sociedade protetora de animais; seria perder tempo. Em primeiro lugar, porque as ações não dariam dividendo, e ações que não dão dividendo... Em segundo lugar, haveria logo contra a sociedade uma confederação de carroceiros e brigadores de galos. Em último lugar, era ridículo. Pobre iniciador!..." Como se nota, o cronista ainda descrê da criação de uma sociedade protetora dos animais, afinal, o lucro...


Crônica de 13/2/1889 - Bons Dias: "...Fiquei meio jururu, porque o principal motivo que me levara a procurar a dita pessoa, não era aquele, mas outro. Era saber se existia a Sociedade Protetora dos Animais.

Afinal, prestes a ir ver o cometa, tornei atrás e fiz a pergunta. Respondeu-me que sim, que a Sociedade Protetora dos Animais existia, mas que tinha eu com isso? Expliquei-lhe que era para mim uma das sociedades mais simpáticas. Logo que ela se organizou, fiquei contente, dizendo comigo que, se Inglaterra e outros países possuíam sovidades tais por que não a teríamos nós? Prova de sentimentos finos, justos, elevados; o homem estende a caridade aos brutos...

Parece que ia falando bem, porque a pessoa não gostou, e interrompeu-me, bradando que tinha pressa; mas eu ainda emiti várias frases asseadas, e citei alguns trechos literários, para mostrar que também sabia cavalgar livros. Afinal, confiei-lhe o motivo da pergunta; era para saber se, havendo na Câmara Municipal nada menos de três projetos ou planos para a extinção dos cães, a Sociedade Protetora tinha opinado sobre algum deles, ou sobre todos.

A pessoa não sabia, nem quis meter a sua alma no Inferno asseverando fatos que ignorava. Saberia eu o que se passava em Quebec? Respondi que não. Pois era a mesma coisa. A sociedade e Quebec eram idênticas para os fins da minha curiosidade. Podia ser que os três projetos já a sociedade houvesse examinado quatro ou mesmo nenhum; mas, como sabê-lo?

Conversamos ainda um pouco. Fiz-lhe notar que os burros, principalmente os das carroças e bondes, declaram a quem os quer ouvir, que ninguém os protege, a não ser o pau (nas carroças) e as rédeas (nos bondes). Respondeu-me que o burro não era propriamente um animal, mas a imagem quadrúpede do homem. A prova é que, se encontramos a amizade no cão, o orgulho no cavalo, etc., só no burro achamos filosofia. Não pude conter-me e soltei uma risada. Antes soltasse um espirro! A pessoa veio para mim, com os punhos fechados, e quase me mata. Quando voltei a mim, perguntei humildemente:
__ Bem; se a Sociedade Protetora dos Animais não protege o cão nem o burro, o que é que protege?
__ Então não há outros animais? A girafa não é animal? A girafa, o elefante, o hipopótamo, o camelo, o crocodilo, a águia. O próprio cavalo de Tróia, apesar de ser feito de madeira, como levava gente na barriga, podemos considerá-lo bicho. A Sociedade não há de fazer tudo ao mesmo tempo. Por ora o hipopótamo, depois virá o cão.
__ Mas é que o ...

__ Homem, vá ver o cometa; morro do Nheco, à esquerda."


Aqui o cronista trabalha com as incoerências: ao passo que já existe uma Sociedade Protetora dos animais, na Câmara Municipal correm outros três projetos para a extinção dos cães. Em outras crônicas o cronista trata ainda do emprego os animais como vítimas de estudos que, segundo ele, em nada os beneficiam, mas tão somente o próprio homem. O apreço de Machado pelos animais não se resumia às paginas literárias. Conta Lúcia Miguel Pereira, autora de Machado de Assis: estudo crítico e biográfico, que certa ocasião, Machado e Carolina, que haviam se afeiçoado exageradamente a uma cachorrinha chamada Graziela - uma homenagem a heroína de Lamartine, passaram por um susto, pois o animal desaparecera. Machado movimentou-se ao extremo até que a cachorrinha da raça tenerife fosse encontrada.



Contudo, Muitas são as vozes em favor deles, os animais:



Os animais, como o homem, demonstram sentir prazer, dor, felicidade e sofrimento. – Charles Darwin

Eu dei a minha beleza e a minha juventude aos homens. Agora dou a minha sabedoria e a minha experiência aos animais. – Brigitte Bardot

O cão é a virtude que, impelida de tomar forma humana, fez-se animal. – Victor Hugo

O destino dos animais é muito mais importante para mim do que o medo de parecer ridículo. – Émile Zola

Ao estudar as características e a índole dos animais, encontrei um resultado humilhante para mim. – Mark Twain

Quanto mais conheço os homens, mais estimo os animais. – Alexandre Herculano

O homem tem feito na terra um inferno para os animais. – Arthur Schopenhauer

Não te envergonhes se, às vezes, os animais estejam mais próximos de ti do que as pessoas. Eles também são teus irmãos. – São Francisco de Assis

Acredito que os cães podem falar, mas para não se envolverem nas mazelas humanas, preferem latir. – Victor Hugo

Chegará o dia em que o homem conhecerá o íntimo de um animal. E, nesse dia, todo o crime contra um animal será um crime contra a humanidade. – Leonardo da Vinci

Os animais foram criados pela mesma mão caridosa de Deus que nos criou... É nosso dever protegê-los e promover o seu bem estar. – Madre Teresa de Calcutá

Só que teve um cão sabe o que é ser amado. – Friedrich Nietzsche

Ninguém se pode queixar da falta de um amigo, podendo ter um cão. – Marquês de Maricá

Maltratar animais é demonstrar covardia e ignorância. – Leon Tolstói

Falai aos animais, em lugar de lhes bater. – Leon Tolstói

Entre a brutalidade para com o animal e a crueldade para com o homem, há uma diferença: a vítima. – Lamartine

Os animais dividem conosco o privilégio de terem uma alma. – Pitágoras.
Foto: Pierre, Le chat.


Dados: Machado de Assis: estudo autobiográfico, Lúcia Miguel Pereira, 6a. edição, Belo Horizonte: Itatiaia: Editora da Universidade de São paulo, 1998.

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