Revista Philomatica

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Quando a vida imita a arte

Essa é lá da terrinha. Bem, primeiro a arte: não faz lá tanto tempo, foi em 2004, que estreou o filme O Terminal, com Tom Hanks. Hanks interpretou Viktor Navorski, um cidadão da Europa Oriental em viagem para Nova York, justamente quando seu país sofre um golpe de Estado, razão pela qual tem seu passaporte invalidado e sua entrada barrada nos Estados Unidos. A solução mais óbvia seria voltar, porém, isto será impossível. As fronteiras de sua terra natal foram fechadas após o golpe, o que obriga Viktor a improvisar seus dias e noites no aeroporto, à espera de que logo a situação se resolva. Ali, Viktor descobre o complexo mundo do terminal onde está 'preso', já que essa situação se arrasta por meses a fio. Personagem carismático, torcemos por Viktor e até entenderíamos o governo americano gastar com ele algum punhado de doláres.
Agora a vida: Heinz Müller, piloto alemão aposentado, já há 80 dias no Brasil (está nos jornais de hoje) e desde o dia 2 de janeiro, ilegal, hoje está 'hospedado' na Psiquiatria do Hospital das Clínicas da UNICAMP, mas anteriormente ficou por 13 dias vivendo tranquilamente no saguão do aeroporto de Viracopos, em Campinas. Chegou ao Brasil em 29 de outubro passado, após o rompimento de um caso amoroso que mantinha, via internet, com uma mulher de Indaiatuba.
Agora, Müller quer voltar. Algo compreensível, afinal, a Alemanha, até onde eu sei, não fechou suas fronteiras. O problema é que Müller já consumiu R$ 27 mil reais do SUS (Sistema Único de Saúde). O Hospital da UNICAMP, não informa exatamente o mal que acometeu Müller, o fato é que ele parece sofrer de transtorno neurológico. Cá para mim, trata-se daquela dor na fronte, que em muitos ganha saliência e se exterioriza na vertical. Em outros, adquire forma de raízes ou galhos, para depois, se interiorizar. Nesses casos, mata-se, se mata ou ainda adquire-se transtorno neurológico, o que parece ser o caso do alemão. O fato é que ele cansou-se da 'hospedaria' e quer voltar, já que, segundo ele, 'Aqui só tem louco!'.
Hoje, a volta de Müller depende da liberação de um bilhete para a Alemanha, pedido que pode ser feito junto ao Ministério Público Federal, se Müller, sua família ou o consulado alemão não assumirem a compra do bilhete. Para encurtar a prosa, a estadia de Müller em terras tupiniquins, bancada pelo contribuinte, equivale a 11 vezes mais que o valor de uma passagem aérea direto para a Alemanha (cerca de R$ 2,5 mil) ou, caso ele opte por dar uma passadinha pela Espanha, a diferença é maior ainda, 16 vezes. Pensei seriamente em rever alguns exercícios de interpretação e sair para dar um giro pela terra de Goethe. Fiquei temeroso, pois duvido que teria o mesmo tratamento dado aqui ao alemão. Seria preciso então a intervenção de Fausto, talvez Mefistófeles... antes de ter tratamento similar. É aguardar para ver como Müller vai se sair.

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