Revista Philomatica

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Reler é um prazer!

Quem cultiva o hábito da leitura, ainda que uma 'vezinha' só por semana, certamente há de ter lido um livro que, lá pelas tantas, demorou a leitura e tentou esticar as páginas na esperança de que as estrepolias das personagens sobrevivessem às páginas impressas. São páginas que deixam saudades e, dia ou outro, numa encontro de raros amigos, começamos a recontar a história meio nostálgicos como se dela um dia tivéssemos feito parte. Isso porque ler é encontrar sentidos e, uma vez encontrados, tomamos rumos diferentes, nos enredamos em outros sentidos e em outras histórias, daí porque a leitura nunca é unilateral, mas sempre plural. Através dela nos articulamos, atravessamos mundos, provocamos e nos provocamos, enfim, nos comunicamos.


Hoje, porém, para a maioria dos mortais a leitura é um ato de persistência. O mundo é cada vez mais ágil, visual, fotográfico. A galera que amanhece com os fones socados nos ouvidos e em movimento constante, certamente se aborrece com a pausa e a reflexão exigidas pela leitura. Por outro lado, o mercado moderno incentiva o descarte; usa-se e joga fora. É preciso comprar, substituir, adquirir um modelo mais novo, algo mais recente, mais comentado. Nessa lógica, a sociedade moderna incentiva hábitos comerciais e ideológicos que induzem sempre a leitura de uma nova história, a compra de um novo livro. Mas e aquela história que gostamos de recontar? Esquecemos? Impossível. Daí a releitura, essa, como diz Barthes, contrária aos ditames do mercado e é praticada por categorias marginais - crianças, idosos e professores. Diferente do que muitos pensam, a releitura logo de cara salva o texto da repetição e nos surpreendemos em constatar que nem tudo já havia sido lido, ou seja, nossa releitura torna-se ainda mais plural à medida em que criamos liames com outras tantas histórias lidas desde aquela nossa primeira leitura. E foi exatamente isso o que me aconteceu quando botei as mãos num pequeno livrinho de James Hilton, o Horizonte Perdido. Relembrei-me não só a história, mas também minha história dos tempos de menino, quando me isolava na biblioteca do SESI e ali passava horas. Ali, percorri a trilha ingreme junto de Conway e seu grupo fugindo da guerra até chegar a Shangri-la, a longínqua aldeia encantada encravada nas montanhas do Tibete. Ali, lembro-me perfeitamente, é um mundo mágico, encantado, soberbo. Lugar paradisíaco onde a dor, a velhice e a morte assumem significados inesperados. Ali, nessa civilização ímpar, a vida caminha tranquila e livre. Li o livro de uma tacada só e descobri que ao menos na releitura, em Shangri-la, a busca de um ideal de paz e sabedoria é possível.

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