Revista Philomatica

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Terremoto no Haiti


Hoje, a imprensa destaca a tragédia que se abateu ontem sobre o Haiti e também noticia o esforço da comunidade internacional, inclusive o Brasil, em minimizar a dor daqueles que perderam não só entes queridos, mas também grande parte da estrutura básica para continuar a gerir a vida em sociedade. Hospitais, escolas e casas vieram abaixo. E perder um lar, por mais simples que seja, é perder a referência. Me impressionou a imagem de pessoas andando a esmo pelas ruas, sem destino.

O terremoto do pequeno país caribenho entrou para a lista das inúmeras convulsões que o planeta já teve ao longo da história. Em 1.11.1755, um terremoto de proporções avassaladoras destruía a cidade de Lisboa. À essa época pululavam teoria filosóficas, dentre elas a de Leibniz, filósofo alemão. Sua tese? Simples: a de que vivemos no melhor dos mundos possíveis. Nada mais imobilista! Era o princípio segundo o qual nada acontece sem que haja uma causa ou ao menos uma razão determinante. Assim, para cada acontecimento, situação ou condição, há uma razão que os justifica como o que de melhor poderia haver, simplesmente porque Deus o quis, portanto, não poderia haver nada melhor. Tal argumento equivale a afirmar que, malgrado o predomínio da miséria humana reinante no mundo, que condena o homem a situações degradantes, este, ainda assim, continua a ser o melhor dos mundos possíveis, enfim, um otimismo exacerbado que foi ridicularizado por Voltaire em seu paródico conto filosófico Candide.

O acontecimento de 1755 faz com que Voltaire se insurja contra a indiferença e a insensibilidade da filosofia aos fenômenos naturais que, de forma trágica, transtornam o espírito e a vida dos homens. Em Lisboa, o Terremoto, na França, a Guerra dos Sete Anos, que começa em 1756. Após tais acontecimentos, nota-se um Voltaire aterrorizado e pronto a reconsiderar toda a visão de mundo que recebera até então, razão pela qual se aflige, se indigna, questiona e se revolta. Não lhe concebe a ideia de que tragédias e crimes sejam necessários à busca da perfeição e à moral, porque delas resultariam um bem maior.

Em 1755, o grande filósofo se revoltava contra as ideias, indiferentes às tragédias naturais e nós, hoje, contra o que ou contra quem nos revoltaremos? Ou melhor, cabe a revolta nesses casos? Não, certamente que não. Devemos sim nos mobilizar em prol daqueles que em instantes se viram despossuídos ou, na impossibilidade de uma ação mais efetiva, implorar aos céus e a Deus que dê a eles não o melhor dos mundos possíveis, mas definitivamente o melhor possível.


Nota: O Terremoto de 1755, também conhecido por Terremoto de Lisboa provocou a destruição quase completa de Lisboa e atingiu ainda parte do litoral de Algarve. O sismo influenciou de forma determinante muitos pensadores do Iluminismo. Foram muitos os filósofos que fizeram menção ou aludiram ao terremoto nos seus escritos, dentre os quais destaca-se Voltaire, no seu Candide e no Poème sur le désastre de Lisbonne.
Crédito: Gravura do Terremoto de Lisboa. Google Images.

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