Revista Philomatica

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

E Péricles, o que acharia disso?

Hoje, ouvi muito rapidamente que a Grécia está sob uma greve geral. Pra ser sincero, não prestei lá muita atenção aos problemas dos gregos. Talvez pela distância e por acreditar que, cedo ou tarde, às horas mortas, os deuses hão de se voltar a favor dos gregos e parar com suas brincadeiras de lá do alto do Olimpo. Soube, depois, que a greve que se arrasta fez com que Atenas andasse mais devagar e mais confusa nesta quarta-feira, razão de uma manifestação contra o plano de austeridade do Executivo de Papandreou. Soube ainda que o resultado prático mais visível da greve geral foi apenas acentuar o caos no trânsito da capital. Nada que um paulistano não esteja habituado e, diga-se, sem greve alguma. Na Grécia, o caos estendeu-se aos transportes públicos, serviços de saúde - só funcionaram os plantões de emergência, algumas lojas e agências bancárias que encerraram mais cedo seu expediente, além, é claro, aos aeroportos. Talvez o barômetro que fez com que a notícia se espalhasse mais rapidamente. Diz-se que o Governo grego tem sondagens que mostram que é apoiado, no momento, pela maioria da população. E a inexistência de uma adesão maciça à iniciativa de ontem, em Atenas, pareceu comprová-lo. Esse é um lado da moeda; do outro, os sindicatos, que anunciam uma adesão de mais de 90% dos trabalhadores à greve. Assunto chato, não? Vamos ao detalhe que me deixou curioso: a Acrópole está fechada para visitantes devido à greve. Não deu outra: como num flash vi Péricles se desdobrando para convencer os trabalhadores de que o corte das pedras era de suma importância. Trabalho árduo; o sindicato dos operários das pedreiras era o mais atuante e radical. O nome do presidente do tal sindicato, desconheço, assim como não faço ideia se, já naquela época, essas associações sobreviviam à custa da habitual graninha surrupiada do salário dos trabalhadores. Talvez não, talvez fossem subvencionadas por Címon, político rival de Péricles. Címon, era um homem grandioso que ganhou fama entre o povo ao usar o seu próprio dinheiro para ajudar os atenienses que precisavam de assistência. Talvez distribuisse bolsa família aos operários. Enfim, para contornar Címon, Péricles gastou dinheiro público para construir novos projetos, o que em tese, foi pior que Címon, pois o dinheiro era público, exatamente como se faz hoje em dia, aquém do Atlântico. Mas Péricles não perde seu mérito, já que foi o maior responsável por muitos dos projetos de construção em Atenas, entre os quais, as estruturas sobreviventes da Acrópole e também por ter encarregado o escultor ateniense Fídias, como o supervisor do programa de embelezamento da cidade. Ah, meu Deus! Já havia programas tipo belezura. Lembram-se disso? Ainda assim, louros para Péricles. A greve há de se acabar e as ruínas estarão de novo à mostra. E do belezura, o que ficou? Quem é paulistano sabe: poucas árvores que, pobres, a atual administração faz questão de ignorar. Se não é Deus para mandar a nossa chuva de todo dia...

Um comentário:

  1. Gostei muitíssimo desta crônica sobre a Grécia. Imagine o que Fídias diria do tal do belezura?
    abraços

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