Revista Philomatica

sábado, 18 de junho de 2011

25 anos sem Jorge Luis Borges


A morte em Genebra, há 25 anos, do escritor argentino Jorge Luis Borges provavelmente privou a literatura hispano-americana de seu mais célebre ícone. Sua popularidade e ascendência contavam então com poucos rivais. Curiosamente, o tempo jogou a seu favor. E hoje, quando se reedita na Espanha boa parte de seus livros, sua obra continua sendo um farol que ilumina as novas gerações. Sua maneira de escrever, tanto como sua maneira de ler, sua audácia na hora de apagar as fronteiras entre os gêneros, de fazer poemas-ensaios, contos-poemas ou ensaios-contos, de definitivamente passar por alto a dicotomia ficção-não ficção, o transformaram em um profeta do devir da literatura moderna.
Borges morreu em 14.6.1986, aos 86 anos. Não foi uma casualidade ir a Genebra para morrer, cidade com a qual tinha laços desde a infância. Borges não quis voltar a Buenos Aires diante do temor de que sua agonia se transformasse em um espetáculo nacional. A ideia o aterrorizou de tal maneira que quando soube que estava com câncer, durante uma viagem pela Itália, pediu por favor a sua mulher, María Kodama, que não dissesse nada e que voassem para a cidade suíça. Ali, comunicou sua intenção de ficar até o final. No
entanto, sua reta final não foi a de homem resignado. Durante os meses que passou esperando a morte, dedicou-se a estudar árabe.
Borges foi um escritor enormemente midiático, provavelmente um dos primeiros a se transformar em celebridade literária, mas sua fama nunca foi correspondida em número de leitores. "Essa era uma sensação que ele já tinha e que infelizmente foi corroborada depois de sua morte", afirma Kodama. Entre as estratégias comerciais para atrair leitores está a compra há um ano pela Random House Mondadori dos direitos dos 54 livros de sua obra. Sempre editado na Espanha pelas casas Emecé e Alianza, Borges passou assim, em bloco, para outras mãos, depois de uma negociação capitaneada por seu agente, Andy Wylie El Chacal. "Também temos os direitos digitais, e isso em Borges será muito importante", indica um diretor da Random House, que nega que Borges não seja lido: "Se vende muito, sobretudo duas ou três obras suas".
Enquanto na Argentina se optou por lançar as obras completas e a edição de bolso, na Espanha, por enquanto, foram editados os contos completos e a poesia completa (ambas pela Lumen) e, na Delbosillo, Historia Universal de la infamia, Ficciones, El Aleph, El libro de arena, Historia de la eternidad e, em um só volume, Inquisiciones e Otras inquisiciones. No outono se somarão Miscelánea e, em um estojo de três volumes, Textos recobrados.
Paralelamente, outras editoras aderiram a essa onda de reedições. A Nórdica com Kafka Borges, uma edição ilustrada tipograficamente que inclui vários relatos de Borges para os quais Kodama deu os direitos e, na Alfaguara, Cuentos memorables según Jorge Luis Borges, uma antologia inspirada em uma entrevista do escritor.
Mas a voz de Borges vai além do próprio Borges. Escritor de escritores, só entre as novidad
es dos últimos tempos se encontra Help a él (Periférica), essa sequência de El Aleph do recém-falecido Roberto Fogwill, escritor que poderia se apresentar como a nêmese do próprio Borges, ou El hacedor de Borges. Remake, de Agustín Fernández Mallo (Alfaguara). Para o líder da chamada Geração Nocilla, Borges é "o grau zero da literatura". "Nele se concentra toda a literatura anterior, lançando uma nova literatura que chega aos nossos dias. Tem vida. Por seu caráter poliédrico, sugestivo. Pode ser estudado a partir das matemáticas, da astrologia, da semiótica. Li El hacedor com 18 anos e me abriu um mundo desconhecido."
"Foi muito útil para nós o modo como resistiu ao estereótipo sobre que tipo de escritor era", afirma Ricardo Piglia. "Era muito latino-americano e muito pouco latino-americano ao mesmo tempo. Borges contista, Borges poeta, Borges leitor? É a mesma coisa, embora o dividamos para nos entendermos. Avançou em algo que mistura ficção e autobiografia, isso que hoje se encontra em Magris ou Sebald ou em muitos outros, e que ele fez nos anos 40." É o que Alberto Manguel denomina AdB e DdB. "Existe a literatura Antes de Borges e a literatura Depois de Borges. Borges criou sua obra na medida em que a ia lendo, e ia lendo na medida em que criava sua obra. Deu poder ao leitor, o poder de decidir o
que é que estamos lendo."
Sabe-se pouco da intimidade de Borges e menos ainda da de seus últimos dias. A viúva, María Kodama, aproveitou nestes dias sua presença na Casa da América para revelar a uma legião de fiéis leitores borgianos alguns detalhes pouco conhecidos da estrofe final de seu marido. "Para Borges a intimidade era sagrada, ele se autodenominava um cavalheiro do século 19. E foi esse pudor que o levou a querer morrer em Genebra. Não queria ver sua agonia empapelando sua cidade [Buenos Aires]", relatou Kodama.
Como prova de seu insaciável e legendário apetite intelectual, Kodama lembrou que o escritor "passou os últimos dias estudando árabe". "Ele queria que continuássemos nossos estudos de japonês, mas não encontrei nenhum professor a domicílio. Buscando o japonês, vi o anúncio de um egípcio de Alexandria que ensinava árabe. Borges se animou com a ideia. Eu lhe telefonei logo, sem reparar que eram 11 horas da noite, que na Suíça são como 4 da madrugada no resto do mundo, e lhe dei todo tipo de explicação porque não podia ter um não como resposta. Eu estava desesperada. Marquei encontro no fim de semana no hotel. Quando abri a porta e ele viu Borges, começou a chorar. "Por que não me disse?", perguntou entre soluços. "Li toda a obra de Borges em egípcio." Eu não lhe disse nada porque queria que fosse o destino que decidisse, não queria lhe dizer que as aulas eram para Borges, preferia que pensasse que eu era só uma mulher louca. Aquele professor lhe dedicou horas belíssimas nos últimos dias de Borges, desenhando em sua mão as preciosas letras do alfabeto árabe. Tomamos chá, conversamos. Passamos divinamente."
Borges morreu em 14 de junho, há 25 anos. E agora sabemos que entre todos os saberes que se extinguiram com ele contava-se também um incipiente conhecimento de árabe.
A partir de Borges se agranda después de Borges, de Elsa Fernández-Santos, El País.com
Imagens: Caricatura e foto disponíveis no Google Images.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Foto de cão dependurado em varal gera revolta no Facebook

Vamos falar de utopia? Pois é, dizem que a palavra foi cunhada a partir dos radicais gregos ο - “não” e τόπος - “lugar”, portanto”, o “não-lugar”, algo como “lugar que não existe."
O termo se popularizou a partir da publicação, em latim, no ano de 1516, de Utopia, obra de Thomas More. More, fascinado pelos relatos de viagem de Américo Vespúcio sobre a recém avistada ilha de Fernando de Noronha, em 1503, produziu uma obra que ao longo da história da circulação literária, tornou-se sinônimo de algo fantasioso e irrealizável.
Sempre que se fala em utopia, ventila-se a ideia de quimera, delírio, fantasia, etc., razão pela qual me pergunto o que pensara Mahatma Gandhi quando disse que “A grandeza de uma nação pode ser julgada pelo modo que seus animais são tratados”. Este sinal de uma civilização ideal, respeitosa, fantástica, há de ser sonho de pacifista até quando? Por que a cada dia, numa época em que as pessoas se julgam civilizadas e o progresso caminha a passos largos, nos deparamos com uma total inversão de valores a ponto de chegarmos a duvidar da ciência, que um dia afirmou ser o homem um animal "racional"?
O porquê da prosa? Ontem à noite, lia as últimas notícias na internet e me deparei com a notícia de que o jovem filipino, Jerzon Senador (qualquer semelhança do nome com estripulias do pessoal de Brasília, é mera coincidência), entediado, resolveu partir para a crueldade, dependurou seu cãozinho no varal, fotografou e publicou as fotos no
Facebook. Procurava, assim, de maneira covarde, seus quinze minutos de fama.
A campanha contra Senador foi grande, ele retirou as fotos e pediu perdão. Você perdoaria caso tivesse sido pendurado à exposição pública? Bem, é claro, o perdão depende do grau de cristandade do su
jeito – e as Filipinas, dizem, são um país cristão. Eu, pessoalmente, penso que estão se habituado a nos estapear a outra face.
Mas nem tudo está perdido, acreditem! Segundo li, nas Filipinas, em maio de 2010, houve a primeira condenação de alguém a
cusado de crueldade contra animais, o caso de um jovem da Universidade das Filipinas, multado em 2.000 pesos filipinos e condenado a dois meses de trabalho comunitário por ter matado um gato dentro do campus universitário e divulgado o assunto em seu blog.
Fim da prosa? Nada disso. O que mais me surpreendeu foram os comentários dos internautas brasileiros, povo cristão, ordeiro e respeitoso (?), sobre o ocorrido. Em geral não leio esse tipo de expressão pessoal, temo embrutecer, embora migalhas ali sejam aproveitáveis. Não vou reproduzir aqui as idiotices que li, porém, é curioso que os codinomes não condizam em nada com o que é falado. Uma pessoa intitulada Professor reclama de que há assuntos muito mais importantes a serem publicados e argumenta que o cachorro não sentiu dor física, embora sinta tensão emocional. “Nota-se isso pelo seu olhar!”, afirma o cara pálida. Um outro, o Dono da Razão, não questiona o fato, mas sim, a causa. Tivesse ele sido pendurado depois de um banho para que se secasse, tudo bem!
A estupidez vai além e há aqueles que acreditam que as pessoas não se importam com crianças de rua, assassinatos, a impunidade geral e irrestrita desta casa-de-mãe-joana, por que deveriam se importar com animais? Há ainda aqueles que, quando questionados sobre os absurdos ditos, sentem-se tolhidos em seu direito de expressão - essa mania de brasileiro que acha que o ouvido dos outros é pinico e por isso pensam que somos obrigados a concordar com tudo.
Que não concordem com meu respeito aos animais, vá lá, mas covardia é covardia! Digam o que quiserem, mas, ainda assim, continuo pensando feito Gandhi, mesmo que tudo não passe de utopia.

Para saber mais:

http://tecnologia.uol.br/ultimas-noticias/redacao/2011/06/15/fotos-no-facebook-de-cachorro-pendurado-num-varal-despertam-ira-de-usuarios-da-rede.jhtm

Imagens: Todas disponíveis no Google-Images.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Museu do romance da Eterna

Há dias me veio às mãos o delicioso livro Letras Francesas, de Brito Broca, versão em volume dos comentários do crítico publicados nas páginas do suplemento literário do jornal O Estado de São Paulo, de 13.10.1956 e 30.9.1961, uma iniciativa do governo do Estado de São Paulo, algo - parece-me, inconcebível em dias atuais de intelligentzias furta-cor, ora azul-amarela ora vermelha.
Lá pelas tantas, Broca, ao comentar o Prêmio Goncourt de 1958, atenta para o fato de o prêmio ter sido concedido a Francis Walter, escritor belga que até então não publicara nada mais que dois ensaios filosóficos. Broca fala também da tradição dos Goncourt em revelar autores novos e desconhecidos, embora Walter já tivesse ultrapassado a casa dos cinquenta. Porém, o que mais desperta a atenção do crítico é a mania dos Goncourt de escolher os romans-fleuves, aqueles calhamaços meio Bíblia que não raro ultrapassam as quinhentas páginas.
Ocorre que Saint-Germain ou la Négotiation é pequeno, o que poderia levar o leitor
a crer que o romance refletia as novas tendências da época, ou seja, fosse um romance de técnica revolucionária, com mudanças de estrutura semelhantes ao que pregavam Robbe-Grillet e Michel Butor.
Engano: Broca avisa que o romance tem construção clássica, é escrito em primeira pessoa, em forma de memórias e em tudo lembra o romance balzaquiano.
Quando lemos um romance normalmente nos colocamos na pele do narrador - seja ele onisciente ou subjetivo -, nos esquecemos da nossa condição de leitor e mesmo do lugar da leitura, vamos em busca de nosso objetivo: a sedução pela leitura, a evasão para mundos distantes e diferentes. Ainda que o livro trate de literatura, é quase impossível não se deixar seduzir por um mise en abyme, que nos coloque em contato direto com as interações entre o autor, sua obra e seu leitor.
Esse mergulho nos livros através do livro tem sido comum em literatura. Talvez a mais intrigante e feliz experiência nesse sentido tenha sido Dom Quixote. Inesperadamente, ao descobrirmos que a jornada de Quixote teve sua origem nos livros, ficamos fascinados como Cervantes conduz suas personagens num jogo que mescla as fronteiras da ficção à realidade confundida alegremente por Dom Quixote em sua eterna batalha contra os moinhos de vento.
Voltando às considerações de Brito Broca, constatamos que o romance moderno ganhou nova estrutura na esteira do que preconizavam Robbe-Grillet e Butor e há casos em que isso foi levado ao extremo.
Em 1975 foi lançado na Argentina Museu do romance da Eterna, de Macedonio Fernández. Este livro que só ganhou sua primeira edição 15 anos após a morte do autor, em 1967, é um pequeno enigm
a escrito ao longo de quarenta e oito anos, uma colcha de retalhos da teoria literária, filosófica e metafísica do autor a ponto de Fernández ser considerado um dos mentores de Jorge Luis Borges.
A principal característica do livro é sua primeira metade, constituída exclusivamente por prefácios, ao todo sessenta! Ali o autor explica sua abordagem e suas teorias - sobre a arte, a paixão, a beleza, a morte, sua noção sobre a realidade, que ele diz tratar-se de uma imagem de consciência individual e que, portanto, pode ser confundida com sonho -, além de apresentar suas personagens, o conteúdo de sua história e revelar os principais entrechos.
Fernández sustenta que um bom romance não deve ser baseado em uma história, mas em estética pura, portanto, afirma te
r escrito o “primeiro romance verdadeiramente artístico”. Entre suas influências literárias, nota-se, está Dom Quixote. A opção por mitigar o excesso de realismo não tem função outra que dar rédea livre à imaginação, sem criar expectativas no leitor, não raro, ancorado no real.
Um dos aspectos de Museu do romance da Eterna é que gira em torno da literatura. Muitas de suas reflexões são sobre a realidade filosófica e metafísica, o tempo, a memória, a identidade, a ciência, a solidão, a cidade, etc.
Embora curto como a obra de Walter, a diferença é que o Museu do romance da Eterna é um meta-romance e, sem dúvida, uma das mais bem sucedidas reflexões sobre a natureza do romance.

Para saber mais: Museu do romance da Eterna, Cosac Naify, 2010. Tradução de Gênese Andrade.

Imagens: 1. Capa do livro editado pela Cosac Naify; 2. Macedonio Fernández. Todas disponíveis no Google Images.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

MEC irá apurar erros e pobremas em livros distribuído

O bolso, dizem, é a parte mais sensível do corpo, e a amizade, indestrutível ao tempo. São aforismos, clichês, mas eu, cá com meus botões, acredito piamente que um aforismo contradiz o outro. Quer ver? É só aquele seu amigo querido começar com o vezo de não mais se lembrar de pagar o dinheirinho, que na hora do aperto – dele -, você emprestou. Não há amizade que resista!
Agora uma outra situação: vá você a um café, consuma o equivalente a 10 reais, pague a dívida com uma nota de 20 reais e receba de troco 8 reais. A conta está certa? Claro que não! Prova de que o bolso é a parte mais sensível do corpo é que você, de pronto, reivindica os 2 reais que lhe são de direito. E por que para o MEC 16 menos 8 é igual a seis, 10 menos 7 é igual a 4?
Dito isto o MEC me autoriza a começar o próximo parágrafo de duas maneiras: Tem sido tão frequentes as gafes do ministério que... (ou) Tem sido tão evidente a incompetência do ministério que...
Escolha uma ou outra, leitor, e verá que no final dá – ou dará - tudo na mesma: não se achará os responsáveis, haverá meia dúzia de explicações contraditórias e tudo acabará em pizza!
Há menos de um mês o MEC foi notícia: distribuiu em 4.236 escolas do país um livrinho intitulado Por uma vida melhor que reacendeu a discussão sobre como registrar as diferenças entre o discurso escrito e o oral. Em tempo: segundo a imprensa o livro foi idealizado pela ONG Ação Educativa que, não se esqueça, deve ser patrocinada com dinheiro do contribuinte. Lá, no livro, você encontra pérolas como: “Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado.”
Você leitor, claro, já notou que há erro de concordância. Mas e daí? Você pode dizer os livro? Sim, pode! Afinal, não havia um ex-presidente que dizia que sua mãe havia nascido analfabeta? Ironias a parte, a autora do malfadado livro se explica (pág. 15): “Você pode estar se perguntando: Mas eu posso falar os livro? Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico”.
Segundo o MEC o livro está em acordo com os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) – normas a serem seguidas por todas as escolas e livros didáticos, e em respaldo ao livro, afirma no texto dos PCNs: “A escola precisa livrar-se de alguns mitos: o de que existe uma única forma ‘certa’ de falar, a que parece com a escrita; e o de que a escrita é o espelho da fala” e complementa: “Essas duas crenças produziram uma prática de mutilação cultural que, além de desvalorizar a forma de falar do aluno, denota desconhecimento de que a escrita de uma língua não corresponde inteiramente a nenhum de seus dialetos”.
Ora, tudo isso é óbvio. É sabido de longa data que o discurso oral é diferente do escrito, aliás, frequenta-se a escola para descobrir, entre outras coisas, detalhes linguísticos como este que, caso passem despercebidos, podem comprometer o futuro do estudante. Vá um estudante que tenha se revoltado contra a tal mutilação cultural participar de uma entrevista de trabalho e nela empregar o discurso do MEC dizendo coisas como nóis vai, os livro, a gente somos... Sorte a dele se a entrevista for para pleitear um trabalho no MEC, pois, caso contrário, em qualquer outra empresa - séria -, se forem compreensíveis, lhe dirão que seu português é sofrível, senão, nem isso.
Qualquer cristão sabe que ao dizer “Nóis vai de ônibus” ou “Nóis é di menor” a função comunicativa também se realiza, seu interlocutor compreende não só aquilo que você quis dizer, como também fica a par de suas deficiências linguísticas.
Do outro lado do cipó está o linguista Evanildo Bechara, da ABL, que critica a intelligentzia do MEC: “Há uma confusão entre o que se espera da pesquisa de um cientista e a tarefa de um professor. Se o professor diz que o aluno pode continuar falando ‘nós vai’ porque isso não está errado, então esse é o pior tipo de pedagogia, a da mesmice cultural” e conclui: “Se um indivíduo vai para a escola, é porque busca ascensão social. E isso demanda da escola que lhe ensine novas formas de pensar, agir e falar”.
Afinal, o que fica é não pender para exageros, o que não quer dizer que qualquer registro linguístico pode ser usado em qualquer situação.
Essa foi a polêmica do começo de maio. Para junho, o MEC criou outra envolvendo a área das exatas - a matemática.
Ontem li que o MEC vai abrir uma auditoria para apurar os responsáveis pelos erros em 7 milhões de livros usados como material de apoio em escolas públicas por todo o país. Valor da conta? R$ 13,6 milhões pela impressão das obras, não contabilizados, claro, o valor gasto com autoria e revisão.
Espera-se que os cálculos tenham seguido a lógica apresentada nos livros, onde 16 menos 8 é igual a 6: aí o governo sai ganhando; porém, como nada é perfeito, a conta pode ter sido feita com base no cálculo de que 10 menos sete é igual a 4, neste caso, prejuízo para o governo, para o contribuinte e para o aluno em sala de aula.
Segundo a imprensa, o esmero e o cuidado é tal nos exemplares da coleção Escola Ativa (35 livros – no total, 200 mil coleções foram impressas e distribuídas) que há páginas em branco, textos sem continuidade, contas matemáticas e tabuadas erradas, além de outros problemas.
Especula-se, segundo li hoje, que haja outros envolvidos nesse imbróglio todo: Tiririca, integrante da Comissão de Educação de Cultura da câmara dos deputados está bem cotado. Há também Palocci, que pode ter sugerido como fonte um livro excepcional que possui. Nele, dizem, na página 2010, há um cálculo curioso: aplicando-se um valor x, por um período de quatro anos, pode-se multiplicar esse valor em até 20 vezes!
Dizem ainda que se trata de uma nova fórmula matemático-socialista de enriquecimento do patrimônio particular.

É..., pior que tá, fica!

Imagens: Todas disponíveis no Google-Images.